O velho ciclo da vida

Olá, amigos...
Prometi voltar a blogar e acabei passando mais tempo do que pretendia ausente. Primeiro por um certo bloqueio criativo ou talvez pelo cansaço mesmo... mas isso não é novidade. Depois porque de repente eu e minha família passamos por um momento bem difícil: a perda dos meus avós maternos. E aí vocês podem perguntar: dos dois? E  eu lhes digo: sim... com apenas doze dias de diferença entre a partida de cada um. Como é que foi isso?
Bem, primeiro meu avô Ulysses, de 95 anos, ainda lúcido, foi internado na UTI com um quadro de pneumonia. Assim que ele saiu de casa, minha avó, Carli, com 92 anos, que já estava acamada desde 2014 e apresentava um tipo de demência senil, começou também a apresentar sintomas de pneumonia e poucos dias depois precisou também ser internada na mesma UTI. Os dois ficaram um ao lado do outro, em seus leitos, e até mesmo a equipe do hospital ficou comovida em vê-los assim, juntos, numa situação tão dramática. Parece história de filme, não é? Como em Diário de uma Paixão... impossível não lembrar. 
E foi bem assim, realmente... Foram 60 anos de casados. Um amor tão lindo, uma ligação de almas mesmo. Tão forte que nada os separaria... nem mesmo a morte conseguiu por muito tempo. 
Desde 2014, quando minha avó teve uma trombose e ficou acamada após passar vários dias internada, meu avô passou a ficar cada vez mais deprimido e frágil, debilitado. Enquanto ele parecia acelerar o processo de envelhecimento, ela parecia apenas esperá-lo. Até que os dois chegaram juntos ao fim. 
A vida inteira eu, meus pais e minhas irmãs tivemos pavor só de imaginar como seria o dia em que perderíamos meus avós maternos, que sempre foram nosso cais, nosso porto seguro, nossos anjos da guarda. Também tínhamos
medo do que seria daquele que ficasse quando o outro tivesse que partir dessa vida. Realmente não dava para imaginar um vivendo sem o outro.  Deus foi tão bom que o desenredo da história aconteceu assim... 
Foi triste, foi sofrido ver os dois daquele jeito... 
Mas alivia saber que agora toda dor passou e os dois estão juntos, em paz... E nenhum deles precisou saber da morte do outro. Os dois já se encontraram na vida eterna! Eu acredito nisso!
Ontem estive na casa de meus avós pela primeira vez depois que eles se foram. A mesma casa onde vivi alguns dos momentos mais felizes e doces da minha infância... hoje em dia é bem diferente daqueles tempos... desgastou-se juntamente com seus donos, parece carregar uma energia de dor e tristeza... suas paredes sujas precisando de pintura, sua bela mesa de jantar dobrada, que era para facilitar a passagem da cadeira de rodas de minha avó... um cheiro de mofo, de coisas antigas... Na casa me vêm tantas lembranças... eu, minha irmã e outras crianças dançando na sala ao som da Arca de Noé, de Vinícius; vovô dando uma dançadinha engraçada ao lado do bufê, pegando um pedacinho de bolo de rolo... Tocando piano... O hino nacional e Odeon eram algumas das músicas que ele tocava e a gente mais gostava... E o cheiro do almoço sendo preparado, os bolinhos de carne de vovó... a brincadeira na rede, as conversas na lajota, vovó de bobies no cabelo... seus rituais de beleza, o cheiro do pó da HR, que ela usava, seu cheiro de água fresca... ela se maquiando no espelho da porta do guarda-roupa, que insistia em não ficar parada... Ela costumava abrir a boca enquanto se maquiava, desenhava suas sobrancelhas com o lápis, a parte mais difícil... Quando terminava de se arrumar com todo capricho, íamos sentar nas nossas cadeirinhas na lajota, ou dar um passeio nas "lojinhas"... 
Poderia passar horas aqui falando sobre eles... meus avós foram os melhores avós do mundo! Eles tinham tanto amor! Dois corações enormes! Eu sempre vou me lembrar e vou fazer questão de contar para meu filho, Mateus, como os bisavós dele eram lindos! Dois anjos em nossas vidas! Por eles sempre terei toda gratidão desse mundo! Espero que eles saibam disso e nunca se esqueçam do quanto eu os amo. 

Comentários

Andrea disse…
Que palavras lindas, Ana Carolina! Pode ter certeza que seus avós estão juntos na eternidade, um amor desses dura pra sempre!
Fiquei emocionada porque hoje é aniversário de 91 anos da minha avó materna e eu também não sei como reagirei quando ela partir. Também tenho muitas lembranças da infância viajando com ela <3
E seja bem-vinda de volta ao mundo dos blogs ^_^

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