Divãneando


Quando eu era criança meu sonho era "ser mocinha". Mas o que exatamente isso significava? 
Ser mocinha era praticamente a perfeição. Uma mocinha sentava sempre de pernas cruzadas, andava bem arrumada mesmo dentro de casa (inclusive de sapatos), comia com moderação, escrevia com letra bonita e tinha sempre tudo muito bem organizado, passava hidratante após o banho e outras coisas do tipo. E eu acreditava que ser mocinha era ser gente grande. Assim, eu atingiria essa perfeição tão almejada quando finalmente eu crescesse. 
Como uma amiga minha me falou hoje ao ouvir essa minha história, desde criança que meu passatempo é me cobrar. É verdade... 
Fico me perguntando quando foi que tudo começou... fazendo uma retrospectiva, a resposta me parece bem clara: foi quando passei a sofrer bullying na escola e a ter dificuldades em fazer amizades por ser uma menina nordestina e gordinha. Foi ali que passei a acreditar que ser como eu era não era suficiente para ser aceita e agradar as pessoas. Passei a dar muita importância à opinião dos outros sobre mim. E é incrível como isso mexe com a gente, pois por mais que a gente cresça, supere e passe a dar menos importância, em termos, a essa aceitação externa, o que passamos lá atrás deixa marcas bem difíceis de apagar. 

Como já era de esperar, eu cresci e até hoje não virei uma mocinha. É claro que deixei de ter as preocupações de quando era criança, tornei-me menos perfeccionista e vaidosa do que já fui um dia... Mas as cobranças internas e externas parece que estão cada vez maiores. E ao mesmo tempo em que elas praticamente me consomem, ainda não parecem ser o bastante para me tirarem da inércia, ou seja, para me fazerem realmente mudar o sentido das minhas ações rumo aos novos hábitos que supostamente me farão mais feliz e realizada, satisfeita comigo mesma. 
Parece que me sinto constantemente culpada, ansiosa para fazer uma série de coisas, que embora pareçam pequenas e simples, quando somadas parecem uma lista interminável de mudanças que preciso fazer. Só que hábitos, por menores que sejam, não são tá fáceis de mudar. E quando "relaxo" um pouco sempre tem alguém para me lembrar que o meu jeito de fazer as coisas não está muito certo. 
 - Não, Ana Carolina, você não pode comer croissants todos os dias, não pode tomar refrigerante, nem gastar tanto dinheiro com comida... Ana Carolina, você devia preparar suas refeições à noite, antes de dormir! Você precisa ter sempre um lanchinho saudável na bolsa, fazer uma feirinha toda semana... É tão simples! Ana Carolina, como vai cozinhar com essa pia cheia de louças acumulada? Tem que ser mais organizada... Que bagunça!  E o vigilantes do peso? Você não está pagando "uma fortuna"? Por que não usa? Ahhh... as roupas não dão em você? Na próxima vez que viermos aqui não quero saber dessa desculpa! Vamos criar vergonha na cara e emagrecer! Menina, você tá passando o filtro solar somente essa hora? Desse jeito vai ficar com a pele toda manchada... e envelhecer rápido... Precisa beber água, melhorar a postura... e a dermatologista disse para sempre hidratar a pele! E os exercícios? Devia aproveitar para fazer pelo menos uma esteira quando Mateus dormisse... Três vezes na semana já seria um bom começo. E musculação também é essencial...Já pensou quando estiver velha, pesada, sem forças para carregar o próprio corpo? Um filho é a motivação para a gente se cuidar e batalhar para melhorar na vida. Você precisa usar melhor o seu dinheiro. Não devia pegar tanto Uber, podia economizar... E já viu quanto plástico vai parar nos oceanos? Você devia separar o lixo e escolher melhor os produtos que consome!  E a fotografia? Tem que correr atrás! Já tem a câmera, fez curso, comprou material, precisa divulgar, fazer contatos... E você faz o que na sua hora livre? Fica no celular! Ah, aí fica difícil, Ana Carolina... Você reclama demais! E só vive cansada! Cansada de que mesmo? 
Pois é... no meio de tantas cobranças eu tenho me sentido cada vez mais sufocada, exausta e frustrada. 
Sabe aquela música do Roberto Carlos que diz: É Preciso Saber Viver ? Pois é, é preciso mesmo! E às vezes é como se eu não soubesse, porque o tempo nunca é suficiente e pareço sempre insatisfeita, mesmo tendo plena consciência de todas as bênçãos que Deus derrama em minha vida. E aí me vem mais culpa, por estar sendo talvez ingrata, o que não é de forma nenhuma minha intenção. Mas como sair desse enorme ciclo vicioso??? 
Resumindo, a única resposta que encontro para isso é: através de pequenas ações todos os dias. Apenas parada e me deixando levar pelos impulsos e pelo meu desânimo diante das dificuldades a situação apenas vai se agravar com o passar do tempo. E a tendência disso é um sentimento de frustração cada vez maior. Insatisfação comigo mesma, que pode levar até a uma depressão. 
Sei que preciso ser menos exigente e mais amável comigo mesma, mas também preciso trabalhar minha força de vontade.
MEDITAÇÃO, AUTOCUIDADO, ORAÇÃO... PACIÊNCIA e COMPREENSÃO.
 RESPEITAR meus momentos também. 
EQUILÍBRIO.
 Essas são palavras/ATITUDES-chave para alcançar o que desejo. 
Sei que as transformações precisam vir de dentro para fora, 
sempre regadas com AMOR. 

Mais alguém se sente em situação semelhante? Sei que todos nós temos nossas crises, nossos dilemas, as cruzes que muitas vezes nós mesmos colocamos ou fazemos pesar sobre nossas costas... às vezes por uma forma talvez equivocada de encarar a vida. Sintam-se à vontade para conversar e comentar. É sempre um prazer quando  há uma troca por aqui. 
Um grande abraço a todos. 




Comentários

Postagens mais visitadas